Brilhos e agulhas





O que cresce em meu peito antes cheio de cor e brilho cintilante é uma mancha escura, quase negra. Toda a clareza e a esperança se esvaem. Toda a tranquilidade transmutada em um sentimento que não posso dizer exatamente qual é. Uma mistura de forte angústia com uma dor enraizada, lá no fundo.

Leves pontadas que doem como uma agulha, como milhões de finas agulhas ou espinhos, perturbando o coração assim como perturbavam o caminhar da sereia menina de Andersen. Milhões de pontadas sombrias que refletem o desconsolo do tal sentimento anônimo.

Sem saber reagir e me defender da sensação de estar aos poucos perdendo parte de mim, sonho com as cores que antes inundavam minh'alma e transbordavam inocência, alegria, pureza de espírito e a sutil omissão de preocupação. Preocupação essa que agora é quem se desnuda dentro de mim. 
Desamparo e desespero... Silenciosos.

O sorriso continua colorido, ainda há quem diga. Mas o brilho nos olhos, esse não é mais como outrora.




agosto/2016

RESENHA: Desventuras em Série: Mau Começo por Lemony Snicket


Título: Mau Começo
Série: Desventuras em Série

Autor: Lemony Snicket
Editora: Cia das Letras
Ano: 2014
Páginas: 152 

SINOPSE: "Mau começo é o primeiro volume de uma série em que Lemony Snicket conta as desventuras dos irmãos Baudelaire. Violet, Klaus e Sunny são encantadores e inteligentes, mas ocupam o primeiro lugar na classificação das pessoas mais infelizes do mundo. De fato, a infelicidade segue os seus passos desde a primeira página, quando eles estão na praia e recebem uma trágica notícia. É por isso que, logo na quarta capa, Snicket avisa ao leitor: 'Não há nada que o impeça de fechar o livro imediatamente e sair para uma outra leitura sobre coisas felizes, se é isso que você prefere'." 

RESENHA: Terminei há pouco esse livro, que foi o primeiro lido do ano. Minha espectativa era alta e a leitura não me decepcionou. A começar pelo narrador (ponto que me chama sempre muita atenção). A escolha de um narrador que sempre interage com o leitor e explica expressões para que determinada situação ou fala tome o melhor sentido pra construção da história. Além do humor peculiar com que Lemony trata das inúmeras desventuras que os orfãos passam é de extrema importância para identificação do leitor. As personagens são bem construídas e quem lê consegue imaginar exatamente como são especiais os irmãos, assim como essa inteligencia vai render muitos frutos no decorrer da série. O vilão, Conde Olaf, não fica para trás em sua caracterização e o modo como age objetivando a fortuna dos jovens Baudelaire. Cada detalhe mostra como será daqui em diante a vida dos orfãos, nessa trama que como sempre diz o narrador, não é uma história feliz, e principalmente não tem um final feliz.💙📖📚🖊



O Duplo - Fiódor Dostoiévski



Uma adaptação cinematográfica pode trazer muitas dúvidas e receios, mas se olharmos pelo outro lado da janela é possível ver tantas novas paisagens que só poderiam estar ali graças a sétima arte, graças a um novo olhar as vezes tão interessante quanto o da palavra escrita. É certo que muitas vezes, ler o livro e depois ver o filme torna-se perturbador já que a obra literária tem aqueles detalhes e descrições tão bem feitas que dá a oportunidade de aguçar a imaginação de cada leitor. De quebra o diretor não consegue transpor para as imagens todo esse sentimento do jeitinho que imaginamos. Mas existe beleza nesse paradoxo. A adaptação é justamente uma adaptação!! Não há como ser “fiel” ao livro já que são diferentes artes e abordagens. Cada uma traduz a história de formas diferentes de signos entre si.
            É o que acontece com O Duplo, o livro de Fiódor Dostoievski, novela de 1846 e sua adaptação cinematográfica homônima, dirigida por Richard Ayoade de 2013. O romance de Dostoievski traz a história de um homem normal, Sr. Golyádkin, um funcionário oprimido pela imagem que faz de si mesmo, na típica atmosfera Russa dos anos 1840. Sr. Golyádkin é então obrigado a conviver com seu duplo, que o persegue e ameaça a leva-lo a loucura.
            O filme, por sua vez, tem sua ambientação possivelmente na Londres dos anos 50. Um ambiente tradicional e futurístico ao mesmo tempo. Seria a visão da sociedade, do futuro na década de 50. Com cenas internas escuras, externas sempre noturnas, chuvosas que passam a angustia, perturbação, a solidão que o livro também consegue provocar. O personagem principal é Simon James, interpretado por Jesse Eisenberg. Funcionário de uma repartição, um jovem invisível para a sociedade, tímido e retraído. Eis que chega na fábrica, James Simon, idêntico na aparência e o oposto em personalidade. Conquista a todos, faz tudo que Simon gostaria de fazer, inclusive conquistar o coração de Hanna (Mia Wasikovska), a amada de Simon. Esse é um ponto que considero importante na adaptação da novela de Dostoievski. No livro, Clara é a figura feminina que aparece na história, mas não há qualquer envolvimento romântico com Sr. Golyádkin. Já na obra cinematográfica, talvez por questões comerciais, Hanna aparece em grande parte da história, abrindo espaço para se chegar ao mesmo objetivo: mostrar a vulnerabilidade do personagem que tem sua vida totalmente usurpada por seu duplo.
            Outro aspecto que pode tornar uma experiência frustrante principalmente em uma adaptação de um clássico como é o caso de O Duplo, é o toque de um humor peculiar existente na obra de Ayoade. Apesar de ser classificado como um drama e trazer toda a carga perturbadora e angustiante que Dostoiévski quis transmitir ao leitor pela experiência do duplo, o filme consegue esses efeitos também através de um humor quase negro. A vida de Simon é tão perturbadora que nos faz rir algumas vezes durante os 93 min.
 Um ponto muito positivo do filme é a trilha sonora, os sons de maquinas, portas, catracas, elevadores assim como dos violinos que provocam um clima tenso e colaboram para que o expectador sinta o mesmo que Simon James está sentindo é um dos recursos muito favoráveis que o cinema pode dispor.
            O desfecho das duas obras também é um pouco diferente. Outro ponto que pode tornar a apreciação não tão agradável. O que eu particularmente não vi problema. No livro, a dúvida persistente de que há um outro homem, incontestavelmente igual a Sr Golyádkin é constante. Ao final da história, ele é levado à um hospital psiquiátrico, devido a sua trajetória com os demais personagens sem que ninguém soubesse bem o que estava acontecendo. Teria ele sido usurpado tão ferozmente por seu duplo a ponto de perder o controle de sua própria vida? Ou tudo não passou de um transtorno psicológico (tema muito abordado por Dostoiévski em suas obras).
              Na adaptação cinematográfica, Simon James, não aguentando ver seu emprego, sua amada, sua vida ser tomada por James Simon, e percebendo ser ele seu duplo, e de certa forma a mesma pessoa, resolve se livrar e matar James, se jogando do prédio onde mora. Ainda assim, é possível a dúvida do livro quanto ao transtorno psicológico, mesmo porque em alguns momentos as pessoas o diferenciam completamente de James, em outros confundem os dois e não sabem quem é quem. Seriam eles a mesma pessoa?
         
           Penso que Ayoade fez um ótimo trabalho na adaptação do clássico de Dostoiévki, trazendo toda a essência de O Duplo para as telonas, transpondo através de signos diferentes a história russa perturbadora e angustiante, agregando detalhes que cabiam melhor a obra fílmica e valorizando as nuances literárias que ajudaram a dar vida à Simon James, o Sr.Golyádkin do cinema.

Confiram o vídeo dessa resenha:



         
Bom pessoal, espero que vocês tenham gostado de falar um pouquinho sobre o Duplo e sobre a obra fílmica que eu particularmente amo. Beijos e até mais.

Cálculo



Você me deixou aqui, sozinha, com essa equação difícil para resolver. Sozinha. Antes éramos eu e você. E por pior que fosse o problema, trigonometria, geometria analítica, estávamos juntos, e assim os vetores nunca pareciam tão impossíveis de se entender. A vida não colaborou. Você foi embora. Me deixou aqui com toda aquela probabilidade sonhada de que tudo daria certo no final. De que você era o único no mundo para mim. De que eu era a única no mundo para você.

Parecia tão fácil, você fazia parecer. Nada no mundo se compara ao seu olhar tranquilizador que organizava o caos do universo diante de mim.

Talvez tivesse que ser assim, as estatísticas comprovam: isso funciona pra você. Pra mim... nem tanto. Apenas uma forma prática de mostrar como é de verdade aquilo que não conhecemos bem. 

Pelos meus cálculos, a vida não para pra te esperar apagar e refazer todos os gráficos.
Eles estão lá
Apenas.
Fundamentando a saudade na ponta da pena que agora é meu lar.


Resenha: Anjos e Demônios - A Primeira Aventura de Robert Langdon - Dan Brown

@quimeraliteraria
Anjos e Demônios - A Primeira Aventura de Robert Langdon
Autor: 
Dan Brown
ISBN: 9788599296394
Páginas: 480
Editora: Arqueiro
Ano: 2004
Assunto/Gênero: Literatura Estrangeira; Aventura; Suspense


“Deus responde todas as orações, mas às vezes a resposta é não.”

Sinopse: 
O livro de Dan Brown conta a aventura de Robert Langdon, um professor de simbologia de Harward, que é chamado às pressas para analisar um símbolo misterioso marcado a fogo no peito de um físico assassinado dentro do CERN, um centro de pesquisa na Suiça. Então, ele descobre que o símbolo é um ambigrama Illuminati - uma poderosa fraternidade considerada extinta há anos.

Essa fraternidade ressurge para colocar em prática uma vingança contra a Igreja Católica. Para isso os Illuminati planejam matar quatro dos cardeais mais cotados para substituir o papa no próximo conclave. Roubam tbm uma arma que pode destruir o Vaticano explodindo-o.
Correndo contra o tempo, Robert Langdon com a ajuda de Vittoria Vetra, uma cientista italiana, precisam impedir a morte dos cadeais, achar e desarmar a antimatéria e salvar o Vaticano e a Igreja da vingança Illuminati.


Resenha:
Anjos e Demônios despertou meu interesse, não apenas pelo autor que escreve com propriedade, mas pelo contexto, os detalhes históricos e também pelo cenário. A maior parte da história acontece na Itália, no Vaticano. A cada página, Dan descreve com minuciosos detalhes o local. Por onde o observador Robert passa, cada escultura e monumento é descrito. Eu particularmente li Anjos e Demônios conectada à internet para pesquisar as praças, as pinturas e esculturas, e cada capela e igreja do Vaticano. Me senti na Itália, ajudando o professor de simbologia a desvendar todo o mistério por trás dos Illuminati e da antimatéria. 
Vittoria Vetra, a cientista do CERN que está presente no decorrer de toda a história tem um papel forte no livro em minha opinião. É uma mulher decidida e inteligente. Já falando da adaptação cinematográfica - não consigo deixar de comparar - senti falta de cenas importantes, principalmente algumas em que a bela moça é o centro dos acontecimentos. No filme optaram também por deixar o "romancezinho" do casal 20 em off. Langdon e Vetra fofos na história de Brown, passam por toda a aventura juntos, e nesse meio tempo, Robert está sempre pensando sobre como se sente em relação a cientista.
Confesso que acho os capítulos destinados ao Assassino muito enfadonhos, mas entendi que a profundidade psicológica do personagem é diferente e do meio pro fim da obra, tudo foi ficando melhor, até mesmo as parte que já eram ótimas.

Dan Brown escreve meticulosamente, admiro muito porque apesar de ser uma leitura moderna um pouco mais densa, não tem como abandonar. É gostoso de ler, se torna um vício. O leitor quer saber mais e mais sobre os próximos acontecimentos e tudo se encaixa de uma maneira espetacular.
Recomendadíssimo! Pretendo ler os outros desse box maravilhoso da foto em breve. Tô empolgada pra acompanhar Robert Langdon em mais aventuras e ler outros que não sejam dessa série também. Então, assim que possível, mais resenhas de Dan Brown pro blog.

Beijos