Cores







Mesmo que muitos  não compreendam, não aceitando da melhor ou pior maneira possível, não aceitando de maneira alguma, meu eu, meu verdadeiro eu estava agora aparecendo. Não que fosse novo, não que fosse de arrancar surpresas dos mais próximos. Só não percebia a tal "metamorfose" aquele que nunca prestou atenção  em mim ou o que se escondeu, temendo ver as cores de que sou feita.

Um paradoxo constante, um grande paradoxo de verdades intensas. Nem eu mesma conseguia acreditar, por que então pensar que outros saberiam ver por de traz de um perfeito enigma ?  As cores em mim, em minha cabeça, coração e alma. Dentro dos meus olhos carregados de insônia e descanso.


Sou real, sou sentimento, sou a fúria dentro de mim. Meus suspiros de pavor e alegria se misturam e se contorcem ao distribuir o que sou àqueles que ousam tentar desvendar .





Ah, ciúmes




Personalidade, sim, pode até ter alguma relação com a personalidade de cada um. Eu por exemplo, apesar do orgulho, me sinto completamente à vontade dizendo pra quem quer que seja que sou ciumenta. Essa minha vontade de exteriorizar o aviso, é como se fosse uma placa ou outro tipo de sinalização alertando desesperadamente para que você não ouse nem pensar em me passar ciúmes. NEM PENSAR!
Mas quem foi que disse que esse tal sentimentozinho avesso só é fruto da personalidade? Não deixando de citar, o ciúme é também causado por algumas circunstâncias, situações desconfortáveis e que na maioria das vezes só é percebida por um lado da moeda. Normalmente pelas mulheres.
Seja qual for a relação existente entre duas pessoas, marido e mulher, namorados, amigos, irmãos, pais e filhos, em algum momento de suas interessantes vidas, involuntariamente – o que deixa muita gente nervosa – o ciúmes aparece. Simplesmente aparece. Não há como evitar um sentimento. Mesmo que você costume controlar tudo a sua volta, o máximo que vai conseguir em certas situações é tentar não demonstrar o que sente. E isso, nem sempre é fácil. Dependendo da situação em que se encontra e muitas vezes do quanto a outra pessoa sabe de você, te entende e descobre tudo o que você tem, até mesmo quando nem você sabe direito o que é, as coisas ficam complicadas. Posso dizer que o ciúmes não é uma das sensações mais fáceis de se camuflar.
Não há relacionamento amoroso no universo que já não tenha passado ou que não vai passar por acessos de ciúmes. Importante é saber se colocar no lugar. Quanto mais aberta e sincera a relação, com maior facilidade se lida com esse probleminha, quem gosta de verdade sabe que vale a pena o esforço. Ser exagerado só pra valorizar a razão que acha que tem, é bobeira. Só faz o outro achar que você é um louco descontrolado.
Por fazer parte de nós, seres humanos e diga-se de passagem, ninguém é de ferro o ciúmes pode tomar proporções no mínimo estranhas. Algumas pessoas mais vulneráveis nesse aspecto acabam vendo qualquer gesto ou palavra de outra forma – da pior possível - e é sempre bom um diálogo nesse momento. Momento histórico, claro. Quase uma D.R.
A confiança entre as pessoas só ajuda nessas horas, além do amor próprio, que não deixa o lado da discórdia vencer e te fazer pagar aquele mico provocando um escândalo.
Muitos homens , eu não disse todos, mas muitos deles passam dos limites com a imensidão de motivos que lhes provoca ciúmes como o vestido curto da namorada ou aquela roupa que na cabeça dele, só pertence aos seus olhos; a independência feminina, sabe aquele mulher que não espera por ninguém e faz o que acha que é melhor pra ela?; os amigos são sempre um problema, tanto as amigas dela que a levam pro “mal caminho” ou os amigos que tão sempre por perto com segundas intenções, as vezes até mesmo os amigos dele entram na problemática; a família dela que quer sempre a atenção toda; e o mais trágico e importunador são outros homens, a namorada sempre chama muita atenção indesejada.
Essa relação complexa e ameaçadora sempre esteve e sempre vai estar presente entre pessoas que se gostam, vale ressaltar que entre um casal por exemplo tudo pode ser moldado ao que parece mais interessante pra o bem estar do relacionamento. Ciúmes é tão natural quanto o tédio, só é preciso controlá-lo para que não se transforme em paranóia ou obsessão. E vai dizer que um pouquinho só desse mal não dá uma apimentada boa na relação?

Sobrevivente

Embora ouvisse sempre o sussurrar de milhões de vozes, famintas porém suaves, escolhi não atendê-las de imediato. Aprendi com o tempo a temer a emoção e viver desconexa e saudável. Temer a emoção, temer, emoção.
Não posso dizer que seja fácil. É com certeza mais fácil ignorá-la e fingir não ouvir ou aceitá-la e deixar que ela assuma o controle. O coração perturbado, por aquelas tais vozes descompassadas e desonestas parecem sempre mais e mais fortes. Como alguém que a cada dia se supera no trabalho ou como um sobrevivente de um acidente grave em uma praia deserta.
Um sobrevivente. É dessa forma que por de trás de cada gota de água salgada, escondida entre a parede branca e a porta de jacarandá-do-cerrado queria eu, resgatar a possibilidade de atender aos meus conceitos formados ao longo de muitos tropeços e apunhaladas. Mas como o nosso próprio conto de fadas ainda não chega por sedex, as coisas não caminham como acho que deveriam.
Saber quais ladrilhos se encaixam é quase tão difícil quanto despejar em minha cabeça o planejamento disso tudo. Guiada por emoções e sem o menor descuido de viver aterrorizada pelas pequenas ilusões que se constroem durante esse processo. Outra vez as emoções.
Incontroláveis e imponentes sobre o corpo, a mente e sobre as palavras. Irradiadas pelo vermelho da dor, da vida e da morte.
Intolerável perfeição que aflora nas piores e mais insensatas ocasiões. Desabrocha como a Amarilis, feliz e limpa, contente por ser vida e durar tanto e ao mesmo tempo tão pouco em sua beleza instantânea.
Não aprendi a controlar, mas a deixar de ser controlada e aceitar momentos em que me mostro Eu, sem mais e verdadeira. Deixando que o peso do mundo se espalhe e sem cobrança desordenada aprendi a viver e querer viver. A emoção tão imponente não deixará de ser, não se esconde e deixa de ouvir as tortuosas vozes ou se deixa vencer por qualquer florescer mudo. Sou Amarilis, Açucena, sol de verão, um sobrevivente.