Seu pôr do sol




Sinto a falta tua ao partir dizendo que meus argumentos tão solúveis, não se encaixam em minhas conclusões. Cada ideia minha um devaneio estranho e nada que eu diga faz você voltar a entender, voltar a pensar em mim e você, voltar atrás.

Minhas palavras tão bem pensadas não são o bastante para a sua inteligência magistral. Sua beleza encanada diz merecer mais que uma pena, tinta e papel nas mãos. Mãos frias, aquelas que um dia entre sussurros e suspiros embalaram seu rosto ao filtrar meus olhos nos seus.

Vendo você cada vez menor e longe. Tão longe que seus passos tão bem decorados já não são mais nítidos como minha memória lembrava e seus olhos brilhantes, hipnotizadoramente envolventes tecem verdades nos meus, agora embaçados. A realidade esquece o sonho prometido e eu começo enfim, a conhecer o verdadeiro eu, o verdadeiro você.

Quase sempre inconscientes as pinturas de dois rostos diferentes, opostos, desconhecidos  que se encantam, se misturam num mar de contrariedades e se precisam sem entender bem o porquê. Um porquê  tão desconhecido para ambos quanto para o resto do mundo. O que antes não era importante além da fé no amor, hoje é envergado e suave de emoções.

A necessidade involuntária da dor que escreve as páginas de um livro empoeirado, esquecido e que recorda os passos largos e fúteis mesmo que mascarados e encubados de uma alma gêmea avessa ao destino.

Ouvi sua voz dizer tão clara e amarga que o dia teria acabado. O sol se pôs enfim e minha saudade e culpa sem razão saltam como rojões em volta da solidão que me recobria.

Tentei te fazer ouvir, te fazer entender, te fazer enxergar, tentei te fazer ficar, só pelos instantes necessários para que eu fizesse valer a pena meus argumentos sem lei. Mas descobri então que não se persiste no que não se pode ver. E você me mostrou que não queria enxergar. Há indiferenças que fazem bem, reconstroem o ser. E foi sem você que aprendi finalmente o prazer de me reconstruir.

Eduarda Lima