Preciso de alguém

Caio Fernando Abreu, 1987

Meu nome é Caio F. 
Moro no segundo andar, 
mas nunca encontrei você na escada.
Preciso de alguém, e é tão urgente o que digo. Perdoem excessivas, obscenas carências, pieguices, subjetivismos, mas preciso tanto e tanto. Perdoem a bandeira desfraldada, mas é assim que as coisas são-estão dentro-fora de mim: secas. Tão só nesta hora tardia – eu, patético detrito pós-moderno com resquícios de Werther e farrapos de versos de Jim Morrison, Abaporu heavy-metal -, só sei falar dessas ausências que ressecam as palmas das mãos de carícias não dadas. Preciso de alguém que tenha ouvidos para ouvir, porque são tantas histórias a contar. Que tenha boca para, porque são tantas histórias para ouvir, meu amor. E um grande silêncio desnecessário de palavras. Para ficar ao lado, cúmplice, dividindo o astral, o ritmo, a over, a libido, a percepção da terra, do ar, do fogo, da água, nesta saudável vontade insana de viver. Preciso de alguém que eu possa estender a mão devagar sobre a mesa para tocar a mão quente do outro lado e sentir uma resposta como – eu estou aqui, eu te toco também. Sou o bicho humano que habita a concha ao lado da conha que você habita, e da qual te salvo, meu amor, apenas porque te estendo a minha mão. No meio da fome, do comício, da crise, no meio do vírus, da noite e do deserto – preciso de alguém para dividir comigo esta sede. Para olhar seus olhos que não adivinho castanhos nem verdes nem azuis e dizer assim: que longa e áspera sede, meu amor. Que vontade, que vontade enorme de dizer outra vez meu amor, depois de tanto tempo e tanto medo. Que vontade escapista e burra de encontrar noutro olhar que não o meu próprio – tão cansado, tão causado – qualquer coisa vasta e abstrata quanto, digamos assim, um Caminho. Esse, simples mas proibido agora: o de tocar no outro. Querer um futuro só porque você estará lá, meu amor. O caminho de encontrar num outro humano o mais humilde de nós. Então direi da boca luminosa de ilusão: te amo tanto. E te beijarei fundo molhado, em puro engano de instantes enganosos transitórios – que importa? (Mas finjo de adulto, digo coisas falsamente sábias, faço caras sérias, responsáveis. Engano, mistifico. Disfarço esta sede de ti, meu amor que nunca veio – viria? virá? – e minto não, já não preciso.) Preciso sim, preciso tanto. Alguém que aceite tanto meus sonos demorados quanto minhas insônias insuportáveis. Tanto meu ciclo ascético Francisco de Assis quanto meu ciclo etílico bukovskiano. Que me desperte com um beijo, abra a janela para o sol ou a penumbra. Tanto faz, e sem dizer nada me diga o tempo inteiro alguma coisa como eu sou o outro ser conjunto ao teu, mas não sou tu, e quero adoçar tua vida. Preciso do teu beijo de mel na minha boca de areia seca, preciso da tua mão de seda no couro da minha mão crispada de solidão. Preciso dessa emoção que os antigos chamavam de amor, quando sexo não era morte e as pessoas não tinham medo disso que fazia a gente dissolver o próprio ego no ego do outro e misturar coxas e espíritos no fundo do outro-você, outro-espelho, outro-igual-sedento-de-não-solidão, bicho-carente, tigre e lótus. Preciso de você que eu tanto amo e nunca encontrei. Para continuar vivendo, preciso da parte de mim que não está em mim, mas guardada em você que eu não conheço.Tenho urgência de ti, meu amor. Para me salvar da lama movediça de mim mesmo. Para me tocar, para me tocar e no toque me salvar. Preciso ter certeza que inventar nosso encontro sempre foi pura intuição, não mera loucura. Ah, imenso amor desconhecido. Para não morrer de sede, preciso de você agora, antes destas palavras todas cairem no abismo dos jornais não lidos ou jogados sem piedade no lixo. Do sonho, do engano, da possível treva e também da luz, do jogo, do embuste: preciso de você para dizer eu te amo outra e outra vez. Como se fosse possível, como se fosse verdade, como se fosse ontem e amanhã.

E nessa hora..

Você vai lembrar de mim. No mesmo momento em que olhar pro lado e perceber uma folha voando, tão suave como se estivesse de mãos dadas com o vento.



Você vai lembrar de mim, quando por acaso abrir aquela velha carta, o papel já amarelado e mergulhado em lembranças. Como aquela quando nos perdemos de olhos abertos.
E os detalhes menos interessantes vão fazer pensar. E lembrar de mim sabendo que não adianta nem tentar. São grandes pequenas coisas, que insistem em continuar ficando.
E no seu quarto escuro, só conseguir enxergar o meu retrato, pensando achar que pode lidar bem com isso. Eu sei quando exatamente você vai lembrar de mim.
Não entender o que acontece com você, faz parte de uma vida como todos pretendem ter, até o momento em que o sono é maior que o desespero de não conseguir mais nada.

Eduarda Lima

Trechos

..Não queria dizer obrigada, mas a educação bloqueadora da indiferença e vingança borbulhavam de mim e eu sabia que fazia a coisa certa apesar de tudo. Ele foi embora e eu fiquei alí, sozinha, caminhando sem saber pra onde, saindo daquele lindo parque. O cheiro da natureza e o gosto da esperança ficavam para trás como se nada nunca tivesse sido real e aquele momento era o mais próximo que eu podia chegar disso..
 
As coisas não são fáceis como gostaríamos, as pessoas tornam-se difíceis com grande facilidade. O coração se fecha para os caminhos e as portas antes tão abertas e convidativas hoje se esqueceram do rosto festivo e confiável.
A vida não é sempre linda e cheia de alegrias, aprender a lidar com momentos de tristeza, discórdia, obstáculos e falta de amor são testes para aquele que não confia em sua própria fé. Fé. É dessa maneira que se leva a vida, que se deixa o amor completar corpo e alma. Fé para confiança em si mesmo. Fé para ser testado e ver o lado positivo de cada barreira. Fé.. fé e muito amor.
Eduarda C. Lima

Postado em 11 de dezembro de 2010

Haia, minha Clarice

Não me sinto vazia, inquieta, revoltada. Não tenho a intenção de sentir aquela tristeza profunda de quando se perde alguém querido. Prefiro deixar que a grandeza e a forma dolorida porém irremediavelmente bela e profunda de ver o outro, de sentir o amor e de viver a vida, marque e remarque todos os segundos da minha existência. Por que se viver doía, doía elegante, doía com graça, com classe, doía para completar corações, para emocionar e fazer crescer e florescer emoções. Sua dor, tão experiente, tão sábia.. inspira-me a ser mais, a brilhar como uma estrela, a entender o mundo, os dias, as pessoas e seus passos e entender com vivencia, não apenas entender, mas chegar cada vez mais perto do coração selvagem, 

ah Lispector.
10/12/1920 a 9/12/1977

Tudo porque você não estava aqui

"Deu vontade de te escrever sem gramática, ortografia ou caligrafia

deu vontade de desenhar o seu rosto em uma folha branca, mas as cores nunca seriam iguais as da sua tez,
deu vontade... vontade de cobrir as linhas de um caderno, só por saudade
pra que essa saudade pudesse contar pros cadernos do mundo como eu tenho me sentido tão infeliz.

Tudo porque você não estava aqui...

Deu vontade de confessar meus segredos pras orelhas dos meus livros;
já não sei se o que vivo é verdade ou não, eu pergunto pro meu coração como faz pra parar esta dor que me assalta toda vez que sinto sua falta.
Vontade de dar meu corpo pedaço por pedaço em cartas lacradas apenas com seu nome, endereçadas, postadas ao sol, ao céu com um grito louco sem poder te ouvir.

Tudo porque você não estava aqui.
Tudo porque eu acordei com esta louca vontade de abraçar, beijar, telefonar de qualquer lugar para você.
Tudo porque eu acordei com esta louca vontade."

Antología

"Para amarte necesito una razón



Y es difícil creer que no exista una más que este amor.
Sobra tanto dentro de este corazón
Y a pesar de que dicen que los años son sabios todavía se siente el dolor
porque todo el tiempo que pasé junto a ti dejó tejido su hilo dentro de mí
Y aprendí a quitarle al tiempo los segundos..
Tu me hiciste ver el cielo más profundo.Junto a ti creo que aumenté más de tres kilos.
Con tus tantos dulces besos repartidos desarrollaste mi sentido del olfato
Y fue por ti que aprendí a querer los gatos.
Despegaste del cemento mis zapatos para escapar los dos volando un rato.
Pero olvidaste una final instrucción porque aún no sé como vivir sin tu amor
Y descubrí lo que significa una rosa.Me enseñaste a decir mentiras piadosas para poder verte a horas no adecuadas
y a reemplazar palabras por miradas y fue por ti que escribí más de cien canciones
y hasta perdoné tus equivocaciones y conocí más de mil formas de besar
y fue por ti que descubrí lo que es amar"




Shakira

Postado em 12 de setembro de 2010

Hoje Caio F.A. completaria 62 anos,



mas nos deixa sua compreensão do mundo, suas verdades, angústias, medos, sorrisos, amigos, lembranças.. de alguém que entendia a vida e sabia de segredos para preencher corações, como nenhum outro.


"Penso sempre que um dia a gente vai se encontrar de novo, e que então tudo vai ser mais claro,que não vai mais haver medo nem coisas falsas. Há uma porção de coisas minhas que você não sabe, e que precisaria saber para compreender todas as vezes que fugi de você e voltei e tornei a fugir. São coisas difíceis de serem contadas,mais difíceis talvez de serem compreendidas — se um dia a gente se encontrar de novo, em amor, eu direi delas, caso contrário não será preciso. Essas coisas não pedem resposta nem ressonância alguma em você: eu só queria que você soubesse do muito amor e ternura que eu tinha — e tenho — pra você.



Acho que é bom a gente saber que existe desse jeito em alguém,como você existe em mim."





Caio Fernando Abreu

"Eu só queria que você cuidasse um pouco mais de mim, como eu cuido de você.
cuidar é simplesmente olhar pro mundo que você não vê...



Só ligue se tiver vontade, só venha se quiser me ver
Mentir é pura vaidade de quem precisa se esconder
Será que eu vejo apenas o que você não vê?
eu não entendo como você não pode perceber.
Se não sabe se afaste de mim, mas antes que seja tarde
nos salve do fim
é luz antiga o fim da tarde
dessa saudade sem socorro"



E um abraço às vezes basta.
Para um grande amigo, Short

     

As pessoas mudam de lugar, saem do bairro em que foram criadas, mudam da casa que lembra toda a infancia, vão estudar em outro colegio, mudam de faculdade. Viajam e acabam ficando por lá, saem da cidade pela transferencia do emprego Deixam de jogar bola na rua ou de sair a noite com os colegas, fazem promessas pra parar de beber com os amigos, resolvem ficar na casa em que passaram a morar sozinhos, no sabado a noite, só pra estudar, terminar aquele projeto. Ficam sem tempo pra tudo depois de encarar a “facul” e o estágio, e ainda por cima, tem o namorado(a) que também exige tempo, e precisa naturalmente de atenção. Começam novas responsabilidades. Aí então, saem da casa dos pais, tem que saber controlar o dinheiro que agora tem que render e pagar todas as contas. Respiram mais aliviados com a independencia… na primeira semana, por que na segunda acabam vendo que ninguém vive sozinho.
E é essa a beleza da vida. Passar pelas mudanças tristes, felizes, constrangedoras, construtivas e crescer entendendo que ninguém vive sozinho. E o melhor é ver que quem esteve de coração ao seu lado, hoje, amanhã ou daqui a 20 anos ainda estará, mesmo que geograficamente distantes.

Eduarda Lima