Uma nova tarde

Leões a me devorar, um pedido de socorro não é o bastante. Escrevo. Preciso ouvir o que quero. Desfrutar da vida sem medo de ousar. Um grande e complexo problema, ainda imaturo.
O trem já vai passando, um barulho que nem mesmo a angústia desvenda. Passa longe, longe, longe, longe e a capacidade de pensar nos porquês continua  a mesma, intacta e perseverante.
Indiscreta porém cautelosa como o toque suave em meu rosto, vejo as folhas das altas arvores dançando com o vento forte. Mais exata do que nunca, mas repleta de calafrios nesse inverno seco e quente, ouvi dizer do soprar que o trem só passa aqui uma vez por dia.
A vida inteira vai caminhando como o tal trem que some no horizonte, um laranja iluminado como nunca se viu igual, é delicado.. profundo até. Delicado como as palavras que pensando em dizer só se rasga papéis e mais papéis. Ninguém vai se importar. E entre um café e outro o desperdício do sol, do tempo, das lágrimas, da tinta, das linhas é cada vez mais evidente e irremediável.
As horas se vão. O vento parece carregá-las.
Volto à janela, tudo já se foi e só consigo sentir calafrios, sono e esperança para a próxima tarde daquele inverno. Um dia de cada vez, um trem para cada tarde e um calafrio para cada desperdício. É como um telefonema que não compensa o tempo. A alternativa é esperar o telefone tocar outra vez ou o inverno terminar.

Sonhe, caminhe, viva

Entender o que estou fazendo para ser alguém é mais do que fazer alguma coisa para ser.
Embora não veja nada concreto à minha frente, costuro um caminho infindável e ambíguo para me manter viva. Sei que posso seguir por esse caminho, sei que consigo sobreviver andando e buscando e aprendendo e sorrindo e chorando. Mesmo que meus passos não estejam tão certos de para onde estão indo ou mesmo que minha intuição me guie sem volta por uma estrada diferente da que a razão deveria propor.
Não basta ter um mapa em mãos para chegar onde se pretende. O mais difícil é passar pelos obstáculos e entender o porquê de enfrentá-los, qual a real importância. A angústia pela qual se passa em cada escolha é o início de uma viagem bem sucedida. Sou humana, somos dúvidas e incertezas bem estruturadas e camufladas. Alguns com uma facilidade fascinante de interpretar as voltas e rodeios, outros de certa forma inconformados, destroem qualquer vestígio de esperança que ajudaria a continuar.
Não que seja fácil usar da esperança e vontade de chegar até um lugar onde nem mesmo um coração embrulhado de experiência sabe onde é, mas tentar e olhar em volta se importando com o momento presente, desfigurando a sombra de um dia ruim já vencido.
O que se constrói de sonhos parece-me mais razoável e possível. Ser alguém e manifestar o real sentido de um objetivo parte do princípio de querer ser, sonhar em ser. Implacável perfeição. Feita de devaneios e mistérios incontroláveis apoiados em uma verdade pessoal escondida e inconsciente. Basta olhar em volta, aprender a analisar. O primeiro passo mais seguro para uma possível vitória ou uma possível chegada é o sonho e posteriormente a análise. A emoção e mais tarde a razão, caminhando também por estreitas e incertas estradas, porém lado a lado, sem se distanciarem a ponto do risco de perda.
O final feliz do sonho da noite passada é exatamente o caminho que traçamos buscando a tal perfeição. A vida passa e passa depressa como um garotinho que corre por diversão. Rápido o bastante para que a adrenalina de se viver e caminhar intensamente, aprendendo a cada passo venha à tona e tome conta do que me acostumei a ver em mim.